Falecimento do Pe. Toninho: Lágrimas na terra, festa no céu.
Padre Antônio Aparecido da Silva, mais conhecido por Pe. Toninho, ontem, (no dia 17 de dezembro), partiu para a eternidade. O povo negro organizado, seus familiares, as comunidades eclesiais que ele serviu com discípulo missionário, choram o seu falecimento. Mas, com certeza, os céus celebram, fazendo soar os atabaques, que anunciam o festivo e vitorioso anúncio: “vinde bendito de meu Pai” , para o solene ingresso no eterno Quilombo Páscoa.
Pe. Toninho nasceu em Lupércio, uma pequena cidade no interior de São Paulo, em 28 de novembro de 1948. Foi ordenado presbítero em 1976. Fez pós graduação, em Teologia Moral, na Itália. Foi nomeado por D. Evaristo Arns Reitor da Faculdade de Teologia da Arquidiocese de São Paulo. Por dez anos foi pároco da Igreja Nossa Senhora da Achiropita tornando-a casa e escola da fraternidade racial. Realizou um profícuo trabalho como Diretor Provincial da Congregação Orionita, valorizando o sonho do fundador da mesma em relação à África e aos afrodescendentes. Inspirado no carisma da Congregação orionita Pe. Toninho destacou-se como um sacerdote ícone do entusiasmo que a Igreja deve ter no trabalho com o povo negro.
Os grandes estudos, documentos e realizações da Igrejano Brasil e na América Latina, direta ou indiretamente relacionados ao povo negro, depois do Concilio Vaticano II, tem substancial contribuição do Pe. Toninho.
Sua atuação foi de fundamental importância na solecitude da Igreja pelos afrodescendentes, durante a preparação e a realização da Campanha da Fraternidade sobre o negro, em 1988, tendo como lema “Ouvi o clamor deste povo”.
Ele protagonizou a criação da Pastoral Afrobrasileira; criou e acompanhou vários grupos de reflexão e produção de subsídios, entre eles o Atabaque. Assessorou com muita competência o secretariado de Pastoral Afro-americana ligada ao Conselho Episcopal Latino-americano e do Caribe – CELAM.
Pe. Toninho foi, sem dúvida, um dos mais importantes e influentes Agentes de Pastoral Negros do Brasil, nos últimos tempos.
Em profunda sintonia com o Movimento Negro Civil, ele, com freqüência desafiava seus companheiros de caminhada a assumir a pastoral “afro”, como um imperativo do Evangelho de Jesus Cristo. Temos, dizia ele, uma missão cristã aguda, urgente e muito delicada, que passa pela promoção da auto-estima; pela luta incondicional contra todo o racismo e a discriminação racial; pelo diálogo religioso e cultural; pelas políticas de ações afirmativas geradoras de cidadania a pleno título e pelo processo de inculturação na ação evagelizadora da Igreja.
A tristeza e a saudade que sentimos com o falecimento do Pe. Toninho, são amenizadas com a certeza cristã de sua ressurreição em Cristo. Pois ele viveu a fé; viveu e promoveu a esperança dos pobres (DA 395) e amou com o melhor do seu coração, o Dom de Deus presente na negritude.
Agora, no Quilombo Páscoan, com certeza já está intercedendo por todos nós, que “gememos, choramos e por seu testemunho lutamos neste vale de lágrimas”, por uma sociedade mais justa e solidária, a caminho do mergulho eterno no Axé de Deus, em comunhão com os bem-aventurados quilombolas do céu.